Por Vitor Geraldi Haase
A neuropsicologia nasceu na segunda metade do Século XIX quando
neurologistas e psiquiatras europeus e norte-americanos começaram a estudar
sistematicamente o comportamento de pessoas com os mais diversos tipos de
lesões cerebrais e doenças neuropsiquiátricas. No Século XIX existia, e em
alguns países como a Alemanha ainda existe uma especialidade denominada
neuropsiquiatria (“Nervenheilkunde”). “Nervenarzt” ou “médico de nervos” é o
título de um periódico tradicional na Alemanha. Em outros países a neurologia
cognitiva ou comportamental é a especialidade médica contemporânea que
participa da área interdisciplinar de conhecimento denominada neuropsicologia. As
observações clínicas realizadas no Século XIX demonstraram que lesões em
determinadas regiões do cérebro se correlacionavam com certas alterações do
comportamento e da cognição. P. ex., se uma pessoa sofre isquemia numa região
lateral, inferior e posterior do lobo frontal esquerdo (a área de Broca) ela
poderá apresentar um quadro de afasia caracterizado por perda de fluência na
fala, dificuldades articulatórias, dificuldades com a sintaxe, prejuízo ao uso
de flexões verbais, preposições e conjunções com preservação do uso de
substantivos e adjetivos além de preservação relativa da capacidade de compreensão
oral, constituindo uma síndrome conhecida como afasia de Broca. Por outro lado, se uma pessoa sofre isquemia em uma região lateral,
superior e posterior do lobo temporal esquerdo (a área de Wernicke), poderá
apresentar um quadro de afasia caracterizado por fala abundante porém
desprovida de significado, sintaxe quase normal, escassez de substantivos e
adjetivos e melhor uso de verbos, preposições e conjunções, além de
dificuldades acentuadas na compreensão oral. Esse quadro é conhecido como
afasia de Wernicke. Mais adiante serão discutidas as principais síndromes
neuropsicológicas que comprometem o cérebro em desenvolvimento. A neuropsicologia é, portanto, a
disciplina científica e clínica que estuda as relações entre cérebro e
comportamento. O método da neuropsicologia é a correlação anátomo-clínica ou
correlação estrutura-função: os achados sobre o comportamento e atividade
cognitiva do paciente são correlacionados com modelos de localização funcional
no cérebro. Os objetivos da neuropsicologia são de dupla natureza: a) localizar
a lesão em termos de um modelo de correlação estrutura-função; b) obter
informações sobre o perfil de funções comprometidas e preservadas para orientar
o processo de reabilitação.
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