Por: Eraldo Carlos Batista (adaptado)
Encoprese é uma doença
relativamente comum na infância que continua a ser mal compreendida, por esta
razão, é importante esclarecer um pouco mais essa patologia.
A encoprese é geralmente definida
como evacuações repetidas de fezes, involuntária ou voluntariamente, em geral
de consistência normal ou quase normal, em locais não apropriados para esse
propósito no contexto sociocultural do individuo. Denomina-se uma situação de
dificuldade que algumas crianças apresentam para controlar adequadamente os
esfíncteres. Pode-se constatar através de variações na quantidade e
consistência de fezes na cueca ou calcinha e em outros lugares impróprios, na
ausência de patologia orgânica.
Sua causa pode ser de ordem
fisiológica ou emocional, por isso é importante a avaliação médica e
psicológica. Diversos estudos realizados com criança puderam constatar que a
encoprese é uma doença Psicofisiológica do trato gastrintestinal “no qual se
constata a existência de uma importante interação entre eventos
ambientais, hábitos comportamentais, experiência emocional e fisiologia
anorretal.” (Simon, 1996).
A criança com encoprese
usualmente sente vergonha e pode desejar evitar situações diferentes que possam
lhe provocar embaraços como, por exemplo, dormir na casa de colegas, participar
de acampamentos ou viagens.
Em geral, essas crianças
apresentam alguns traços de personalidade comuns, por exemplo, dificuldades no
controle da agressão, dependência exagerada dos pais e apresentam intolerância
a situações frustrantes. Sua auto-estima geralmente é baixa e a maioria delas
têm consciência das constantes rejeições sofridas.
O fato
de a criança sujar-se com fezes pode ser deliberado ou acidental, resultando de
sua tentativa de limpar ou esconder as fezes evacuadas involuntariamente.
Quando a incontinência é claramente deliberada, características de Transtorno
Desafiador Opositivo ou Transtorno da Conduta também podem estar presentes.
Muitas crianças com encoprese também têm enurese.
Segundo o DSMIV os critérios para o diagnóstico são:
- Critério A - Evacuação repetida de fezes em locais
inadequados (por ex., roupas ou chão), seja voluntário ou involuntário.
- Critério B - O evento deve ocorrer pelo menos uma vez
por mês por no mínimo 3 meses
- Critério C - A idade cronológica da criança deve ser de
pelo menos 4 anos (ou, para crianças com atrasos no desenvolvimento, uma
idade mental mínima de 4 anos)
- Critério D - A incontinência fecal não deve ser devido exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., laxantes) ou a uma condição médica geral, exceto através de um mecanismo envolvendo obstipação.
A encoprese já definida
claramente, temos também que classificá-la em:
Primária – ausência de controle, ou seja,
a criança nunca adquiriu o controle voluntário dos mecanismos de evacuação
Secundária – perda de controle, ou seja, a
criança chegou a desenvolver o controle voluntário dos mecanismos de evacuação,
então ocorre a regressão.
Há dois subtipos importantes:
Retentiva – conseqüência da constipação
crônica com incontinência por transbordamento.
Não retentiva - refere-se a sujidade
inadequada, sem evidência de prisão de ventre e retenção fecal. Uma causa
orgânica para a encoprese não retentivo raramente é identificado. A avaliação
médica é geralmente normal, e sinais de constipação são visivelmente ausente. Aproximadamente
80-95% das crianças com encoprese têm uma história de constipação ou evacuações
dolorosas. Os restantes 50-20% tem encoprese não retentivo, no entanto, muitas destas
crianças têm uma história remota de constipação ou defecação dolorosa ou
demonstram evacuação incompleta durante a defecação ao exame físico ou a
avaliação radiográfica. Muitas vezes, a encoprese é acompanhada por algum grau
de desordem das emoções ou comportamento. Não é clara a linha de separação que
acompanha uma desordem de emoções e distúrbios comportamentais. Estudos sugerem
que a maioria das dificuldades comportamentais associadas com encoprese pode
ter a encoprese como resultado e não a causa.
Consequencias na vida da criança:
A
criança com encoprese frequentemente sente vergonha e pode ter o desejo de
evitar situações (por ex., acampamentos ou escola) que poderiam provocar
embaraços. O grau de prejuízo está relacionado ao efeito sobre a autoestima da
criança, seu grau de ostracismo social por seus companheiros e raiva, punição e
rejeição por parte dos responsáveis por seus cuidados. A criança também pode
passar a manifestar alterações comportamentais, mau rendimento escolar e até
conflitos com os pais. Frequentemente, estas situações tendem a arrastar-se por
a criança, com vergonha, negar e não aceitar que tem este problema.
O treinamento inadequado e inconsistente
do controle esfincteriano e o estresse psicossocial (por ex., ingresso na
escola ou o nascimento de um irmão) podem ser fatores predisponentes.
A encoprese pode persistir com
exacerbações intermitentes por anos, mas raramente se torna crônica.
Algumas causas:
- Predisposição física
ineficiente para a função intestinal e motilidade;
- Tratamento prolongado com
laxantes e supositórios;
- Fissuras anais;
- Prisão de ventre;
- Pacientes com dietas de partida
para a constipação constipação;
- Causas de origem emocional;
- Comum em crianças com autismo
ou graves distúrbios emocionais.
A criança pode perceber a
evacuação como uma experiência negativa e segurar as fezes por medo das
conseqüências do resultado sujo e, como conseqüência, serão retidos resultando
em encoprese.
Em qualquer idade, estresse
psicossocial ou doença pode determinar a regressão do controle intestinal ou
uma mudança nos hábitos intestinais que podem melhorar a encoprese.
Encoprese é mais comum durante o
dia que à noite.
O sucesso do tratamento da
encoprese requer uma combinação de terapia médica, intervenção nutricional e
intervenção terapia comportamental.
A psicoterapia ajudará a criança
a lidar com os sentimentos associados de vergonha, culpa, isolamento, baixa
auto-estima.
Pensar que é um problema
temporário pode levar a complicar o quadro.
< http://www.lucianazimmerer.com.br/2011/05/encoprese-infantil.html>.
INGBERMAN, Y. K. A encoprese infantil. In: SILVARES, E. F. M. (org). Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil. Campinas: Papirus, 2000.