Pode-se afirmar que no início da
vida o choro ocorre, em sua maior parte, por meio de um conjunto de respostas
reflexas, envolvendo principalmente contrações do diafragma. Tais choros são
contíguos à privação de reforçadores primários. Com o tempo surgem variações na
forma como ocorrem os prantos, suas motivações assumem outros contornos, variam
também as entonações dos gritos.
A
princípio, quando em privação de alimento, a criança chora e sua mãe lhe fornece
alimento, saciando-a. Juntamente a essa saciação recebe atenção e carinho, que
posteriormente adquirem função reforçadora. Com o tempo a criança se desenvolve
e seu repertório comportamental torna-se mais complexo, e uma série de
comportamentos passa a ser reforçada por reforçadores condicionados. O choro,
aos poucos, passa a constituir-se também por respostas operantes.
Alguns choros parecem ser quase
totalmente operantes, e nem sempre são fortalecidos por reforço primário. Um
dos mais poderosos reforçadores condicionados que podem estar ligados com a
origem e manutenção do choro operante é a atenção, fornecida pelo contato
social.
Nem
sempre a criança pode ser reforçada positivamente, quando não recebe
reforçamento em determinada ocasião, ela geralmente recorre a comportamentos
que anteriormente foram eficazes na obtenção de reforço, o choro é primeiro da
lista. Como o choro de uma criança sempre acaba tornando-se uma condição aversiva,
o adulto acaba por atender às exigências do pequeno, para parar o choramingo.
Dessa forma o comportamento de chorar é reforçado pela submissão e atenção do
adulto. Em situações posteriores provavelmente a criança choramingará novamente
para conseguir o que quer. Tornou-se “mimada”.
Creio
que era esse o caso de minha sobrinha, de dois anos e um mês de idade. Ela vinha
apresentando comportamentos típicos de uma criança mimada. Quando suas
requisições não eram atendidas, chorava desvairadamente jogando-se no chão,
muitas vezes batendo propositadamente com a cabeça. Após esta sena os adultos
sempre lhe davam atenção e atendiam a seus pedidos, ou seja, reforçavam
positivamente o comportamento.
Num
belo dia, minha prima (de 09 anos) e eu estávamos assistindo o desenho animado
“Yin Yang Yô”, e enquanto isso minha sobrinha estava choramingando, querendo
sair para o quintal. Como eu queria ver o desenho, resolvi tentar enfraquecer o
comportamento de chorar da pequenina com algumas técnicas que aprendi no
laboratório de Psicologia Experimental.
Comecei instruindo minha prima a não
dar atenção nenhuma ao choro de minha sobrinha, quando ela começava a chorar escondíamos
nossos rostos atrás de almofadas até que ela parasse. Ao fazer isso estávamos
aplicando uma Punição Negativa, onde a consequência do comportamento é a
retirada do reforçador positivo (chorar tinha como consequência a retirada da
atenção). A princípio ela começou a chorar mais alto (na Caixa de Skinner ratos
e pombos também apresentam reações semelhantes no início de um processo onde o
reforçador é retirado).
Depois
de alguns minutos chorando na sala, onde o choro resultava na retirada da
atenção, saiu correndo em direção à cozinha, onde minha mãe estava. Mamãe
relutou um pouco, mas logo entendeu a jogada e passou a ignorar o choro. Sem
receber atenção na cozinha, minha sobrinha retornou à sala gritando em plenos
pulmões. Minha prima e eu imediatamente cobrimos novamente nossos rostos com as
almofadas, o que fez minha sobrinha empenhar-se ainda mais nos gritos e correr
para a varanda, onde se deitou e chorou por mais uns três minutos.
Quando finalmente parou de chorar, retornou à
sala onde se sentou quietinha. Dez minutos depois choramingou novamente, ignoramos
de novo. Com o tempo o choro passou a ficar cada vez mais “forçado”,
denunciando ainda mais sua natureza operante. Depois notamos que a frequência e
a intensidade dos choros começaram a diminuir. No dia seguinte continuamos com
este método, e tivemos como resultado a total ausência de pirraça. Minha
sobrinha ficou uma “doçura”, um verdadeiro anjinho. Podíamos assistir desenhos
e ouvir músicas sem incomodo algum.
Infelizmente
no terceiro dia o comportamento de fazer birra reapareceu (fenômeno conhecido
na literatura behaviorista como “recuperação espontânea”) em consequência da
chegada de minha irmã e de meu pai, pessoas que anteriormente forneceram muitos
reforços ao comportamento mimado de minha sobrinha, sendo assim compuseram a ocasião
para a recuperação do comportamento. Mas não tem problema, já conhecemos a
fórmula para controlar a situação novamente.
Apesar
do fato de que o procedimento exposto acima não foi administrado no ambiente
controlado de um laboratório de Psicologia, ficou nítida a forma como o
comportamento mimado de minha sobrinha estava sob controle de reforçadores
sociais como a atenção e afeição. Levando-se em conta os princípios da
aprendizagem especificados pelo Behaviorismo, já era de se esperar a forma como
o comportamento indesejado enfraqueceu-se após a retirada dos reforçadores. A óbvia
conclusão a que nós podemos chegar é de que os adultos, sem saber, condicionam nas
crianças os comportamentos inadequados de que tanto se queixam. Porém, com
conhecimento básico dos princípios da aprendizagem e paciência (muita
paciência), é possível modificar comportamentos de forma cuidadosamente planejada
em nossas crianças.
Ah!
Já ia me esquecendo! Nem sempre o comportamento que os pais acham conveniente é
o comportamento adequado a uma criança. Por exemplo, pais extremamente
autoritários costumam desejar filhos submissos. Assim, para evitar punições,
uma criança pode crescer alimentando uma postura subordinada, o que certamente
lhe renderá dificuldades quando adulto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário