por: Ivone Boechat
A música se destaca dentre as expressões artísticas desde os primórdios
da narrativa bíblica. No século VI a.C., Pitágoras afirmava: "a música e a
dieta são os dois principais meios de limpar a alma e o corpo e manter a
harmonia e a saúde de todo organismo". Nada no planeta "escapa"
aos efeitos da música. Ela interfere em tudo que se refere aos seres vivos: na
digestão, na produção de secreções, na circulação sanguínea, nas batidas
cardíacas, na respiração, nutrição, etc... nas inteligências. O alemão
Tartchanoff, especialista nos fenômenos cerebrais, provou que "a música
exerce poderosa influência sobre a atividade muscular, que aumenta ou diminui,
de acordo com o ritmo, o volume, o estilo, em qualquer atividade". Os sons
são dinamogênicos, isto é, aumentam a energia muscular em função de sua
intensidade e ritmo. Ou o inverso: a música pode paralisar. O uso errado da
música encurta a vida e, corretamente usada, ajuda a preservá-la. As batidas
cardíacas podem ser reguladas ou transtornadas pelos sons musicais. O rock, por
exemplo, faz mal à saúde física e mental e vicia, tanto quanto qualquer droga
química. Um rock-dependente submetido a um tratamento de desintoxicação mental
demora a curar a desarmonia no seu metabolismo. Já os ritmos harmoniosos são
estimulantes, sedativos, ajudam a recuperar o sono e fixam a memória. A
medicina usa a música na terapia de: partos, cirurgias, tratamentos dentários
etc. Empresas entretêm pacientes em sala de espera com música suave,
neutralizando a ansiedade. Médicos de Los Angeles, EUA, selecionam músicas para
relaxar no tratamento de pacientes com dores. No Brasil, a música já é usada na
recuperação de doentes terminais. Há muito, sabe-se que a música estimula a
produção no trabalho. Em restaurantes, ela estimula o apetite, o romantismo, a
confraternização, as comemorações. Nos quartéis, desperta o espírito cívico. A
Bíblia conta, por exemplo, que o rei Jeosafá usou um grandioso coral e uma
banda de música para intimidar o inimigo (2 Cr 20). Ganhou a batalha!
Shakespeare dizia que a música: "presta auxílio a mentes enfermas, arranca
da memória uma tristeza arraigada, arrasa as ansiedades escritas no cérebro e,
com seu doce e esquecedor antídoto, limpa o seio de todas as matérias perigosas
que pesam sobre o coração". Para cada ambiente, há ritmos, sons e volumes
apropriados. Porém, o volume acima de 70 decibéis, segundo órgãos
internacionais de saúde, pode causar espasmos e lesões cerebrais irreversíveis.
Mais de 90 decibéis, e o excesso sonoro e rítmico calcificam parcialmente o
cérebro, bloqueando a memória. A epilepsia musicogênica resulta do excesso de
ruídos musicais, incluindo convulsões. A lesão produzida pelo mau uso do som
pode até matar, se a vítima não for adequadamente tratada. Desde o quarto mês
de gestação, os bebês já podem ouvir. A ansiedade de uma grávida onde o som
ultrapassa limites seguros é percebida e registrada pelo feto. Hoje, muitos
jovens têm problemas de audição comuns em idosos, o que explica o volume
exagerado de músicas em festas e cultos. Isso leva a sons cada vez mais altos.
Outros efeitos negativos são irritabilidade, memória confusa, baixa
aprendizagem, baixa autoestima, insônia, cefaleia, vômitos, impotência, morte
etc. Na Alemanha, um estudo revelou que 70 decibéis sistemáticos de música
causam constrição vascular - mortal, se as artérias coronárias já estiverem
estreitadas pela arteriosclerose. É comum o mal-estar súbito em pessoas durante
festas em que a música é uma arma. Por outro lado, a música sensibiliza,
entusiasma, fortalece a memória, consola; tranquiliza, desperta a atenção,
estimula a inteligência.