
A Psicologia do Trânsito surgiu como consequência de
numerosas pesquisas em dezenas de institutos, laboratórios e centros de
pesquisa nas últimas duas décadas. Podemos definí-la como o estudo científico
do comportamento dos participantes do trânsito, entendendo se por trânsito o
conjunto de deslocamentos dentro de um sistema regulamentado. Este tipo de
Psicologia estuda, portanto o comportamento dos pedestres - de todas as idades
-, do motorista amador e profissional, do motoqueiro, do ciclista, dos
passageiros e do motorista de coletivos, e num sentido mais largo ainda, de
todos os participantes do tráfego aéreo, marítimo, fluvial e ferroviário. De
modo geral, no entanto, a Psicologia do Trânsito se restringe ao comportamento
dos usuários das rodovias e das redes viárias urbanas. Este comportamento,
aparentemente simples, é na realidade bastante complexo. Ele pode incluir processo
de atenção, de detecção, de diferenciação e de percepção, a tomada e o
processamento de informações, a memória a curto e a longo prazo, a aprendizagem
e o conhecimento de normas e de símbolos, a motivação, a tomada de decisões bem
como uma série de automatismos percepto-motores, de manobras rápidas e uma capacidade
de reagir prontamente ao feedback, a previsão de situações em curvas, em
cruzamentos e em lombadas, e também, uma série de atitudes em relação aos
outros usuários, aos inspetores, às normas de segurança, ao limite de velocidade,
etc.

Um primeiro carro deste
tipo foi introduzido na França por G.Michaut, no Laboratoire de Psychologie de la
Conduite de ONSER, em Montlhery, onde tive o prazer de estagiar durante um ano.
Como é óbvio, a Psicologia do Trânsito se relaciona com quase todas as áreas
especializadas da Psicologia: desde a psicofísica e psicofisiologia até à
teoria de decisão e os processos cognitivos, procurando explicações na teoria
do condicionamento operante e na teoria psicanalítica. Interessa-se por
psicologia do desenvolvimento e por psicologia gerontológica e se relaciona com
a psicologia da motivação e da aprendizagem, com a psicopedagogia e com a
psicologia social. O comportamento no trânsito é algo que compreende as reações
de todas as pessoas que se movimentam, independente de sua idade, condição
socio-econômica, nível de instrução, sexo ou profissão. É um campo que envolve
grande complexidade de fatores, e por isto mesmo não muito fácil de ser
estudado. Além de estar ligado às diversas àreas da Psicologia, este campo requer
também contatos com a engenharia de estradas e de veículos, com a medicina do
trabalho, com a estatística, a física (um carro é uma massa em movimento), a
ergonomia, a sociologia, a psicopedagogia e mesmo com o direito e com a
criminologia. A resposta à pergunta "para que serve" é um pouco mais
complexa- Em primeiro lugar, serve para conhecer toda a gama de comportamentos
neste tipo de situações, comportamentos individuais e sociais, contribuindo
para um melhor conhecimento do homem. Em segundo lugar, o estudo dos diversos
fatores perceptivos, cognitivos e de reação podem contribuir para melhorar por
um lado a situação da estrada e da sinalização rodoviária e urbana, e por outro
lado pode aperfeiçoar os veículos, permitindo maior visibilidade, melhor
feedback e colocação mais eficiente dos comandos. Como consequência, a
Psicologia do Transito pode contribuir para diminuir a enorme quantidade de
acidentes nas estradas. Em terceiro lugar, ela pode dar as diretrizes
educacionais, sugerindo recursos mais eficientes para o ensino; dirigir é
aparentemente simples mas um pequeno erro pode ter consequências seríssimas.
Que tipos de ensinamentos podem contribuir para poupar mais vidas? A Psicologia
do Trânsito oferece subsídios para garantir a todo ser humano condições de
maior segurança no trânsito, diminuindo os riscos de acidentes e as ameaças de
perder a vida.
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