Por William A. Spriggs
A Psicologia evolutiva é a ciência que busca explicar, graças aos mecanismos universais de comportamento, o porquê das ações dos seres humanos. A Psicologia evolutiva procura reconstruir os problemas com os quais nossos ancestrais se defrontaram em seus ambientes primitivos, e os comportamentos de solução de problemas que criaram para resolver esses desafios específicos. A partir da reconstrução dessas adaptações de solução de problemas, essa ciência tenta estabelecer as origens comuns de nossos comportamentos ancestrais, e como essas origens comportamentais se manifestam atualmente em culturas nas mais remotas regiões de nosso planeta. O objetivo último é o comportamento que visa a transmissão dos genes de uma geração à geração seguinte. De acordo com a definição proposta por Tooby e Cosmides:"A psicologia evolutiva constitui-se simplesmente na psicologia que leva em consideração os conhecimentos adicionais que a biologia da evolução tem a oferecer, na expectativa de que a compreensão do processo que moldou a mente humana impulsionará a descoberta de sua arquitetura."
UMA EXPLICAÇÃO MAIS DETALHADA:
A crença de que todos os seres humanos possuem áreas inatas em seus cérebro que possuem conhecimentos específicos que os auxiliam a adaptar-se aos ambientes locais, constitui o cerne da psicologia evolutiva. Essas áreas são altamente especializadas e são ativadas somente quando se necessita alguma informação. Essas áreas, ao serem ativadas, fornecem ao cérebro determinados algoritmos (instruções estruturadas) que evoluíram a partir de nossos remotos ancestrais, transmitidos para adaptar-se a todas as situações com que nós, enquanto seres humanos, agora nos defrontamos. Alguns cientistas postulam a hipótese de que essas áreas estão interconectadas às áreas de memória a longo prazo e que nos auxiliam na resolução de problemas.
Essas áreas cerebrais são conhecidas por uma variedade de denominações:
- estruturas cognitivas avançadas;
- mecanismos especiais de aprendizagem;
- mecanismos de funcionamento psicológico;
- mecanismos de funcionamento mental;
- mecanismos computacionais funcionalmente especializados; e
- mecanismos algorítmicos darwinianos
A capacidade de encontrar a localização exata desses módulos algorítmicos ainda está longe de ser alcançada, mas o mapeamento geral dessas áreas tem sido possível graças à varredura (scan) de cérebros que permite localizar a atividade neuronal e a partir de disfunções comportamentais resultantes de danos cerebrais ou outras patologias. Conhecer como essas áreas funcionam em relação ao meio-ambiente e à cultura nos quais os seres humanos se encontram constituem as outras áreas de pesquisas nas quais a psicologia evolutiva demonstra grande potencial. Essas áreas de pesquisa objetivam configurar modelos de comportamento baseados em estudos de primatas, em pesquisas de populações de coletores-caçadores e a partir de evidências antropológicas nas melhores probabilidades de resolução de problemas de nossos padrões ancestrais de comportamento. É a partir desses estudos que os psicólogos evolutivos constróem as probabilidades de comportamente em nossas culturas modernas e nos mostram o porquê daquilo que fazemos -- baseados na biologia.
Em homenagem a Charles Darwin
Embora eu tenha dificuldades em relação a alguns pontos da teoria da seleção natural de Charles Darwin, não questiono o efeito de sua teoria sobre nossa autoconsciência. A teoria da seleção natural de Darwin é monumental na direção comportamental do futuro desse planeta. Assim como seu predecessor Galileo, Darwin e suas teorias evolucionárias tem sido e ainda são, atacadas por forças religiosas amedrontadas em pensar em um mundo onde o poder da autoridade e o direito de ser o porta voz de Deus sejam diminuídos. Compreendo o medo que atiça essa sentimento: eles podem perder influência. Especialmente, o medo da diminuição da família e o caos resultante, que acontecerá se tais teorias são aceitas, não ressoa em ouvidos racionais. Mas também compreendo a importância da psicologia evolutiva e as descobertas que essa nova ciência está trazendo ao mundo quanto ao verdadeiro aprendizado do comportamento humano. A maior parte do sofrimento humano, inclusive a possibilidade de conflitos globais, resulta de nossa ignorância quanto à evolução dos mecanismos de comportamento. Isso requer a aceitação da teoria da evolução. Em 1609, quando a Igreja condenou Galileo a prisão domiciliar perpétua, as autoridades eclesiásticas recusaram-se a observar através do telescópio de Galileo e perceber a lógica de seus argumentos. A Igreja insistia que os pobres encontram conforto em Deus e se refugiam da miséria que os circundam através da permanência na ignorância. As pessoas comuns descobriram as teorias de Galileo de qualquer maneira. A verdade não pode ser escondida eternamente.
Em homenagem a Jane Goodall
Em seu livro autobiográfico, Reason for Hope, 1999, Jane. Goodall nos conta a estória de seus primeiro animal empalhado, Jubilee, um enorme bebê chimpanzé empalhado, criado para comemorar o primeiro chimpanzé nascido no Zoológico de Londres. Porém foram as estórias de aventura de Tarzan, o Homem Macaco, escritas por Edward Rice Burrourghs que lhe forneceu a inspiração verdadeira para partir para a África e fazer o possível para ajudar os animais. Na Inglaterra, quando ainda não existia televisão ou os livros de Harry Potter para adolescentes, ela escalava a velha árvore em seu quintal e deixava sua mente vagar enquanto lia as estórias de aventuras do herói africano. Ela mesmo revela que sentia uma ponta de ciúme que se misturava com suas fantasias quando Jane entrava em cena naquelas aventuras da selva africana. Como sua família não dispunha de recursos para pagar seus estudos superiores, e devido a sua deficiência em língua estrangeira, o que significava não ser selecionada para uma bolsa de estudos, ela se desesperava para achar uma solução de como viajar para a África. Seguindo o conselho de sua mãe de que devia tornar-se uma secretária, pois "...as secretárias podem trabalhar não importa aonde", a srta. Goodall, aos 19 anos, partiu para Londres para aprender secretariado. Nessa cidade, ela passava a maior parte de seu tempo livre explorando as galerias de arte, em especial a galeria Tate e o Museu de História Natural; ela aproveitou ao máximo toda a atmosfera cultural da cidade. Mas foi só depois de receber uma carta de um antigo colega de escola convidando-a a visitar a fazenda de sua família na África, que sua vida mudou totalmente. Economizando cada centavo durante quase dois anos, a srta. Goodal, com 23 anos de idade partiu para o continente africano. Graças a uma série de circunstâncias únicas, a srta. Goodal foi introduzida a Richard Leaky que ficou tão impressionado com seu conhecimento sobre os primatas e sobre história natural que lhe ofereceu, de imediato, trabalho como sua secretária particular. Pode-se suspeitar que Leakey planejava algo mais grandioso, posto que ele acreditava que as mulheres era mais pacientes e deliberadas em suas observações científicas. O motivo que me leva a afirmar que talvez ele tivesse um grande plano era o fato de que Jane Goodall era apenas uma do trio de observadoras femininas que Leaky organizara e financiara. (Diane Fossey foi enviada para Ruanda para estudar os gorilas, Birute Galdikas foi enviada para a Indonésia para estudar os orangutangos e Goodall para o Gombe National Park para observar os chimpanzés -- por isso elas eram chamadas as "Garotas Leaky". ) Em menos de dois anos, Leaky enviou sua pupila para a selva para estudar os chimpanzés. Quando a srta. Goodall tornou-se mais familiar com os chimpanzés ela começou a dar-lhes nomes; uma prática científica imperdoável, posto que os "animais" deviam receber números e não nomes. O motivo disso era manter uma perspectiva distanciada do sujeito e não influenciar as observações. Mas, não somente ela lhes deu nomes, mas também percebia neles personalidades vívidas e emoções quase humanas - um pecado ainda maior. Isto deveu-se ao fato de que a srta. Goodal não tinha recebido sua instrução nas fábricas de ensino de ciência que nos chamamos de universidades; sua formação religiosa e moral a conduzia a observações apaixonadas e ela considerava os chimpanzés como espíritos familiares; ela apenas registrava o que observava e acreditava profundamente que suas observações eram a verdade. A ciência e a humanidade estão melhores devido a suas observações "não-científicas". Como a srta. Goodal observou e confirmou as observações de outros primatologistas, os chimpanzés apresentam comportamentos similares a todas as culturas humanas ao redor do planeta. Os chimpanzés já foram observados beijando-se, abraçando-se, dando-se as mãos, dando palminhas nas costas um do outro, pavoneando-se, fazendo cócegas, chutando e brigando. Mas sua observação mais importante surgiu quando ela viu o chimpanzé Davi Barbacinzenta usar uma ferramenta para retirar cupins do solo. Evidentemente, ninguém acreditou nela até que um fotógrafo da National Geographic capturou com sua câmara os chimpanzés de Gombe usando as ferramenta que ela havia descrito. Graças a seu amor pela natureza e pelos animais; sua determinação em alcançar seus objetivos; sua paciência nas observações; sua concordância em suportar críticas sobre suas descobertas da parte de seus colegas "diplomados"; sua coragem em enfrentar comentários maliciosos de que era "A Garota da Capa da Geographic",mas, acima de tudo, por sua dedicação em tornar esse mundo um lugar seguro através da educação dos jovens, eu homenageio a srta Goodal neste site. Ela nos dá a todos uma razão para almejar por um futuro melhor.
Em homenagem a Edward O. Wilson
"Que FANTÁSTICO o seu site. Estava sonhando acordado no ônibus e a frase "psicologia evolutiva" surgiu na minha mente. Entrei online e comecei a navegar. O primeiro site que escolhi (no Yahoo!) foi o seu. Não preciso surfar mais. ISSO NUNCA TINHA ME ACONTECIDO ANTES! Normalmente passo horas surfando e quando finalmente encontro algo, já estou cansado. Com você gasto meu tempo aprendendo! Muito obrigado." Marge Dolane. Um outro exemplo que vem ao caso: A publicação oficial da revista da sociedade Human Behavior and Evolution Society se chama Evolution and Human Behavior. Antigamente chamava-se: Ethology and Sociobiology. Não estamos nos tornando menos inteligente enquanto espécie, mas as pessoas práticas estão tendo mais influência. Não darei ouvidos aos argumentos de "emburrecimento" da ciência . Eu acho que sei qual o motivo da relutância de Wilson. Todos os cientistas desejam crédito para sua própria teoria ou descoberta, e este estimado cientista não é uma exceção. Mas um dos testes de um grande cientistas é a humildade com que se apresenta ao mundo. Assim, no que me diz respeito, Sr. Wilson, eu o homenageio por seu insight, sabedoria e coragem. E, pelo menos neste sítio da Internet, você é o pai da psicologia evolutiva.
Em homenagem a Leda Cosmides e John Tooby
"Assim como hoje alguém pode abrir o livro de Anatomia de Gray em qualquer página e encontrar uma descrição intrincadamente detalhadas de alguma parte da morfologia típica de nossa espécie evoluída, nos prevemos que em 50 ou 100 anos, será possível abrir uma obra de referência equivalente em psicologia e encontrar descrições detalhadas de processamento de informação de inúmeras adaptações da mente humana, inclusive como elas são mapeadas na neuroanatomia correspondente e como elas são construídas nos programas de desenvolvimento." Ibid., p. 68 Por esta visão e coragem, eu os homenageio nesta seção., William A. Spriggs, 19 de maio de 1999
Adendo: Em 22 de outubro de 1996, o papa João Paulo II, o líder espiritual de todos os católicos romanos, ao dirigir-se aos membros da reunião da Pontifícia Academia de Ciências em Roma, afirmou que a Igreja Católica não mantém nenhuma objeção relativa ao ensino da evolução às crianças. Ele disse que, como a alma humana emergiu dos blocos constituintes da matéria viva criada por Deus, consequentemente a Igreja não contesta os caminhos que os seres humanos tem trilhado.
Referências
"(The Adapted Mind, Barkow, J.H., Cosmides, L., and Tooby, J. (eds) 1992, Oxford University Press, New York)
fonte:http://www.cerebromente.org.br/n11/opiniao/evolutive-p.htm>
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