OS TESTESPSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS
Por Valdeci Gonçalves da Silva
A Psicologia contemporânea parece confundir-se com
a aplicação dos testes e, em alguns casos, julga-se que, sem esse tipo de
instrumento, o psicólogo não seria capaz de fazer qualquer afirmação científica
do comportamento humano. Talvez seja pelo fato das ciências serem conhecidas
por suas técnicas que lhes permitem aplicações e resultados visíveis. Assim,
como o público tende a ver os antibióticos como capazes de curar todas as
infecções, por analogia, também à considerar os testes como recursos infalíveis
para conhecer as pessoas e suas aptidões. No entanto, assim como o médico é obrigado a
conhecer a potencialidade dos remédios e a levar em conta suas contra-indicações,
da mesma forma o psicólogo deve saber, não apenas as vantagens dos testes, mas,
também os limites de sua utilidade e validade. Do contrário, correrá o risco de
apresentar diagnósticos falsos ou deformados, pois estariam baseados em resultados
falhos e incompletos.
Os testes psicológicos não consistem numa exemplar
neutralidade e eficácia em 100% nos seus resultados, mas isto não implica que
os mesmos devam ser dispensados. Desde que atendidas as pré-condições de sua
aplicação, e que o psicólogo examinador tenha conhecimento, domínio da
aplicação e da avaliação, os testes se instalam como referencial que elimina
boa parte da “contaminação” subjetiva das suas percepção e julgamento. É
importante ressaltar a condição dos testes como mais um recurso que auxilia o
profissional na compreensão e fechamento das considerações a respeito de um
examinando, seja em processo seletivo (exame psicológico ou psicotécnico),
avaliação psicológica e psicodiagnóstico.
II - CONCEITUAÇÃO DOS TESTES PSICOLÓGICOS
Os testes psicológicos, da forma que se conhece
hoje, são relativamente recentes, datam do início do século XX. Um teste
psicológico no sentido epistemológico consiste numa tarefa controvertida,
porque dependerá de posições e suposições de caráter filosófico. Para Cronbach
(apud PASQUALI, 2001), um teste é um procedimento sistemático para
observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou
categorias fixas(p.18).Em outras palavras, um teste psicológico é
fundamentalmente uma mensuração objetiva e padronizada de uma amostra de
comportamento. Uma verificação ou projeção futura dos potenciais do sujeito. O
parâmetro fundamental da medida psicométrica são as escalas, os testes, é a
demonstração da adequação da representação, isto é, do isomorfismo entre a
ordenação dos procedimentos empíricos e teóricos. Enfim, explicita que a
operacionalização dos comportamentos (itens), corresponda ao traço latente1.
III - ORIGENS DOS TESTES PSICOLÓGICOS
Com base em Pasquali (2001), a história dos testes
psicológicos, se destacam em sucessivas décadas, de tal maneira que é possível
associar muitos autores a alguns períodos bem específicos.
3.1 - A Década de Galton: 1880. Para Francis
Galton (biólogo inglês) à avaliação das aptidões humanas se dava por meio da
medida sensorial, através da capacidade de discriminação do tato e dos sons.
Galton (apud ANASTASI, 1977) entendia que,
A única informação que nos atinge, vinda dos
acontecimentos externos, passa, aparentemente pelo caminho de nossos sentidos.
Quanto maior o discernimento que os sentidos tenham de diferentes, maior o
campo em que podem agir no nosso julgamento de inteligência (p.8).
A contribuição de Galton para psicometria ocorreu
em três áreas: Criação de testes antropométricos para medida de discriminação
sensorial (barras para medir a percepção de comprimento); Apito para percepção
de altura do tom; Criação de escalas de atitudes (escala de pontos,
questionários e associação livre2); Desenvolvimento e simplificação
de métodos estatísticos (método da análise quantitativa dos dados coletados).
3.2 - A Década de Cattell: 1890.
Influenciado por Galton, James M. Cattell (psicólogo americano) desenvolveu
medidas das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia Mental
Test (teste mental). Elaborou em Leipzig sua tese sobre diferenças no Tempo
de Reação. Este consiste em registrar os minutos decorridos entre a
apresentação de um estímulo ou ordem para começar a tarefa, e a primeira resposta
emitida pelo examinando. Cattell seguiu as ideias de Galton, dando ênfase às
medidas sensoriais, porque elas permitiam uma maior precisão.
3.3 - A Década de Binet: 1900. Seus
interesses se voltavam para avaliação das aptidões mais nas áreas acadêmica e
da saúde. Alfred Binet e Henri fizeram uma série de crítica aos testes até
então utilizadas, afirmando que eram medidas exclusivamente sensoriais que,
embora permitisse maior precisão, não tinham relação importante com as funções
intelectuais. Seu conteúdo intelectual fazia somente referências às habilidades
muito específicas de memorizar, calcular, quando deveriam se ater às funções
mais amplas como memória, imaginação, compreensão, etc. Em 1905, Binet e Simon
desenvolveram o primeiro teste com 30 itens (dispostos em ordem crescente de
dificuldade) com o objetivo de avaliar as mais variadas funções como
julgamento, compreensão e raciocínio, para detectar o nível de inteligência ou
retardo mental de adultos e crianças das escolas de Paris. Estes testes de
conteúdo cognitivo atendiam a funções mais amplas, e foram bem aceitos,
principalmente nos EUA, a partir da sua tradução por Terman (1916), nascendo,
assim, a era dos testes com base no Q.I. (idealizado por W. Stern).
Q.I. = 100 (IM/IC)3
O período de 1910-1930, é considerado a era dos
testes de inteligência sob as influências: Do segundo teste de Binet e Simon
(1909); Do artigo de Spearman sobre o fator G (1909); Da revisão do teste de
Binet para os EUA (Terman, 1916); e do impacto da primeira guerra mundial com a
necessidade de seleção rápida e eficiente, de contingente para as forças
armadas.
Na Bahia, em 1924, Isaias Alvez fez a adaptação da
escala Binet-Simon, considerada como um dos primeiros estudos de adaptação de
instrumentos psicométricos no Brasil (NORONHA & ALCHIERI, 2005).
3.4 - A Década da Análise Fatorial: 1930.
Por volta de 1920, diminuiu o entusiasmo pelos testes de inteligência,
sobretudo por se demonstrar dependentes da cultura onde foram criados, o que
contrariava a ideia de fator geral universal de Spearman. Kelley quebrou a
tradição de Spearman em 1928, e foi seguido, na Inglaterra, por Thomson (1939)
e Burt (1941), e nos EUA, por Thurstone. Este autor é relevante para época, em
vista de que, além de desenvolver a análise fatorial múltipla, atuou no
desenvolvimento da escalagem psicológica (Thurstone e Chave, 1929) fundando, em
1936, a Sociedade Psicométrica Americana e a revista Psychometrika.
3.5 - A Era da Sistematização: 1940-1980. Esta
época é marcada por duas tendências opostas: Os trabalhos de síntese e os de
crítica. Em 1954, Guilford reedita Psychometric Methods e tenta
sistematizar a teoria clássica, e Torgerson (1958) a teoria sobre a medida
escolar. Além disso, Cattell e Warburton (1967) procuraram sintetizar os dados
de medida em personalidade, e Guilford (1967) a teoria sobre a inteligência.
Entre os trabalhos da crítica, destaca-se Stevens (1946), que levantou o
problema das escalas de medidas.
Divulgou-se também a primeira crítica à teoria clássica dos testes na obra de Lord e Novick (1968, Statistical Theory of Mental Tests Scores), que iniciou o desenvolvimento de uma teoria alternativa, a do traço latente, que se junta à teoria moderna de Psicometria, e a Teoria de Resposta ao Item - TRI. Outra tendência crítica para superar as dificuldades da Psicometria clássica foi iniciada pela Psicologia Cognitiva de Sternberg e Detterman (1979), Sternberg e Weil (1980), com seu modelo, procedimentos e pesquisas sobre os componentes cognitivos, na área da inteligência.
Divulgou-se também a primeira crítica à teoria clássica dos testes na obra de Lord e Novick (1968, Statistical Theory of Mental Tests Scores), que iniciou o desenvolvimento de uma teoria alternativa, a do traço latente, que se junta à teoria moderna de Psicometria, e a Teoria de Resposta ao Item - TRI. Outra tendência crítica para superar as dificuldades da Psicometria clássica foi iniciada pela Psicologia Cognitiva de Sternberg e Detterman (1979), Sternberg e Weil (1980), com seu modelo, procedimentos e pesquisas sobre os componentes cognitivos, na área da inteligência.
3.6 - A Era da Psicometria Moderna (Teoria de
Resposta ao Item - TRI): 1980. Talvez chamar a era atual de TRI seja
inadequada, porque: a) Esta teoria embora seja o modelo no Primeiro Mundo,
ainda não resolveu todos seus problemas fundamentais para se tornar um modelo
definitivo de psicometria e, b) Ela não veio para substituir toda a psicometria
clássica, mas, apenas partes dela. Porém, é o que há de mais novo nesse campo.
Veja o texto completo em: <http://www.algosobre.com.br/psicologia/os-testes-psicologicos-e-as-suas-praticas.html>.
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