Por Mitsuko Aparecida Makino Antunes
Abordar a história, os
compromissos e as perspectivas da Psicologia Escolar e Educacional significa
tratar de três dimensões fundamentais de seu estatuto como área de conhecimento
articulada a um campo de prática social. A natureza dessa relação se expressa,
pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos
científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como
modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu
campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem. Dada a
complexidade e a multiplicidade dessas questões, seu estudo comporta um amplo
espectro de focos possíveis, tornando necessária uma delimitação que implica a
opção por alguns caminhos em detrimento de outros, que podem ser abordados em outras
oportunidades. Numa perspectiva mais ampla, poder-se-ia tratar a Psicologia
Escolar e Educacional por algumas de suas articulações mais antigas. A Grécia
Antiga, entre outras civilizações, constitui-se numa rica fonte de estudos, por
sintetizar, em sua produção filosófica, a teoria do conhecimento, as idéias
psicológicas e as propostas sistemáticas de educação da juventude e sua correspondente
ação pedagógica. É possível, nessa perspectiva, estudar Protágoras e os
sofistas, Pitágoras e a escola pitagórica, Sócrates e a maiêutica, Platão e a Academia,
Aristóteles e o Liceu, entre muitos outros. Por esse mesmo foco é possível
estudar o pensamento medieval, em que filosofia/teologia, educação/pedagogia e idéias
psicológicas permaneceram intimamente articuladas.
A modernidade trará uma
complexidade que amplia muito o espectro de análise dessas relações, proporcionando
um campo quase incomensurável de estudos,
que estende para a contemporaneidade suas determinações e nela se faz presente.
Em última análise, pode-se afirmar que a relação entre psicologia e educação, sobretudo
em suas mediações com as teorias de conhecimento, é algo que acompanha a própria
história do pensamento humano e constitui-se como complexo e extenso campo de
estudo. Esta não é a perspectiva que será aqui tratada, mas reiterá-la é
necessário para indicar a complexidade e a totalidade da qual faz parte o foco
sob o qual a Psicologia Escolar e Educacional será abordada neste texto, qual
seja, a Psicologia Escolar e Educacional no Brasil. O presente texto compõe-se
de uma discussão inicial sobre alguns pressupostos do estatuto da Psicologia Escolar
e Educacional, uma breve história das relações entre psicologia e educação no
Brasil e um ensaio sobre s compromissos e as perspectivas colocadas para a construção de uma Psicologia
Escolar e Educacional comprometida socialmente com os interesses da maioria da
população. Estatuto da Psicologia Escolar e Educacional: alguns pressupostos Essa
discussão exige, antes de mais nada, a explicitação de alguns conceitos
presentes nos termos da expressão Psicologia Escolar e Educacional. Entendemos
educação como prática social humanizadora, intencional, cuja finalidade é transmitir
a cultura construída historicamente pela humanidade. O homem não nasce
humanizado, mas torna-se humano por seu pertencimento ao mundo histórico-social
e pela incorporação desse mundo em si mesmo, processo este para o qual concorre
a educação. A historicidade e a sociabilidade são constitutivas do ser humano;
a educação é, nesse processo, determinada e determinante. A escola pode ser
considerada como uma instituição gerada pelas necessidades produzidas por
sociedades que, por sua complexidade crescente, e mandavam formação específica
de seus membros. A escola adotou ao longo da história diversas formas, em
função das necessidades a que teria que responder, tendo sido, em geral,
destinada a uma parcela privilegiada da população, a quem caberia desempenhar
funções específicas, articuladas aos interesses dominantes de uma dada sociedade.
Essa realidade deve ser, no entanto, compreendida também a partir de suas
contradições, sobretudo a concepção de
escola como instância que se coloca hoje como uma das condições fundamentais
para a democratização e o estabelecimento da plena cidadania a todos, e que,
embora não seja o único, é certamente um dos fatores necessários e contingentes
para a construção de uma sociedade igualitária e justa. Sob essa perspectiva, a
escola, tal como nós a concebemos, tem como finalidade promover a
universalização do acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade,
criando condições para a aprendizagem e para o desenvolvimento de todos os membros
da sociedade.
Veja o texto completo em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v12n2/v12n2a20.pdf